sábado, 10 de julho de 2010

Encontros e desencontros dum país empobrecido


Hoje apeteceu-me escrever uma crónica diferente. Não tenho pretensões a analista política, nem sequer a analista social, mas, de facto, tal como de médico e de louco, se calhar também de analista todos temos um pouco… basta ouvir ou ler as notícias que vêem a lume. Ler ou ouvir atentamente, pois claro.

No outro dia, por exemplo, fiquei estupefacta com a notícia de abertura dos telejornais portugueses – Cristiano Ronaldo foi pai. A minha área não é o jornalismo, mas aprendi, na altura em que o ensino era isso mesmo – ensino – que a notícia de abertura dum telejornal era a mais importante do dia. Então, das duas, uma. Ou as regras se alteraram algures no espaço e no tempo (e eu, que sou muito crédula até acredito que assim seja) ou então estamos a assistir a uma grande inversão de valores. Será que, no nosso país, é mais valorizado o facto de um qualquer futebolista ter sido pai do que, por exemplo, o facto de ter havido problemas de segurança nas praias da linha de Cascais provocados por lutas entre bandos rivais? (isto para não falar de problemas bem mais graves que Portugal atravessa e que tem sido relegados para terceiro ou quarto plano a favor dum campeonato do mundo de futebol ou coisa que o valha).

Todos os dias fico ainda mais estupefacta com o estado a que o nosso país está a chegar. Quando julgo que nada mais me irá surpreender pela negativa, lá aparece mais uma notícia a provar que eu estava errada.

Sem entrar em politiquices do género de qual é o melhor partido para governar Portugal, o que é certo é que devemos ser um dos poucos países do mundo que é (des)governado por um Primeiro-ministro sobre o qual, todos os dias, se levantam suspeitas e cuja equipa não se entende sobre os assuntos que interessam ao comum dos mortais. A título de exemplo, no sábado, o governo (essa entidade mística que ninguém sabe bem quem são) disse que era previsível que a taxa de desemprego continuasse a aumentar. Esta notícia não referia quem tinha sido o ilustre membro do não menos ilustre governo a dar esta previsão. Mas, na notícia seguinte, o Primeiro-ministro dizia que a taxa de desemprego vai diminuir até final do corrente ano. Afinal quem é que tem razão?... Bem, devemos ter, com a taxa de desemprego o mesmo problema que tivemos com a terceira travessia do Tejo. No mesmo dia vieram a público três opiniões diferentes, supostamente todas fiáveis e que reflectiam a posição do Governo.

Mas há mais razões para eu achar que temos um país que, dia-a-dia, empobrece ainda mais. Crianças/adolescentes que, ao longo do ano lectivo, tem testes negativos, fraca participação nas aulas e que não conseguiram mostrar que sabiam a matéria dada, mas que passam de ano em prol das estatísticas. Crianças/adolescentes sujeitos a testes de aferição que são um atentado a quem se preocupou em estudar e que até os leva a sério. Professores que se suicidam porque tem medo de fazer frente aos alunos, ou que sentem a sua integridade física ameaçada por eles e/ou pelos pais. Pais que se descuram da sua responsabilidade de educadores porque não se podem aborrecer as crianças. Processos em tribunal que demoram anos a ser resolvidos. Adultos que, aos quarenta anos, são considerados velhos e acabados, e que, por causa da idade, não arranjam emprego. E isto é apenas a ponta do iceberg.

Só lamento que, quem vai pagar caro esta factura, não é quem a criou. Não vamos ser nós, que estamos aqui hoje, que a vamos pagar. São os nossos filhos e netos. Quero acreditar que ainda estamos a tempo de mudar o futuro que lhes estamos a deixar. Assim se queira fazê-lo.

Por indignação ou por direito a opinar, aqui fica registada a minha preocupação de hoje, dos problemas, que, infelizmente, já são reflectidos no presente e ainda serão mais no futuro. Todos já somos poucos para mudar e melhorar!