domingo, 17 de maio de 2009

Rascunho de um amor-perfeito



Fiz um poema que falava de metade dos dedos e andava numa perna só.
Do único olho que tinha podia avistar-se o mundo.
Lá ao fundo, lá ao fundo…
Fiz um poema sem sexo definido, quase travestido, por não saber o que querer.
Por não saber, por não saber…
Fiz um poema até quase me doer.
Parecia, por mais voltas que o mundo desse, que nem mesmo que quisesse,
O poema era sempre a metade de um todo, e a outra metade tinha fugido com um tolo.
Se eu pudesse, se eu pudesse…
Agarrar este rascunho e cerrar um punho, e quase morrer.
Escrever, escrever…

Um dia voltei a pegar-lhe.
Nas mãos delicadas que lhe nasceram prolongavam-se dedos finos como pincéis.
Começou a pintar-me.
Primeiro um olho no exacto local onde me faltava,
Depois uma perna paralela à outra para me fazer andar.
E eu andava, andava...
Distraído e ocupado a pensar.

E se hoje vivo com esse poema na cama, e tem formas belas de mulher,
Metade de mim é perfeita para a amar, a outra metade nem quero imaginar.

José Torres

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Abraço feito poema


Foto de Dominique Dierick
Existem aqueles instantes únicos
Em que me sinto invadida
Por um desejo
Incontrolável e desenfreado
De soltar a emoção
De gritar ao Mundo o Sentimento
E dar voz ao coração
Deste Tanto que me preenche
Deste Tudo que me alenta
Que me sacia e alimenta.
E a Ti Amor
É urgente dizer-Te
Uma vez
E outra mais
E outra ainda
Que Te amo pra-lá-de-muito!
És a minha Vida
O meu Abrigo
O meu Afago
O meu Carinho
O meu Querer
A minha Razão de viver
Estou perdida nesta paixão por Ti
Como no primeiro dia
Mas mais forte
Mais intensa
Deixo-Te o meu Abraço feito Poema
Onde me entrego nesta vaga de palavras
Que Te chegam na sublimação plena deste Sentir
Quero-Te muito!!!

A autora, Sandra Nóbrega (Fly) e a Temas Originais, têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro: "Pedaços D'Alma ", a ter lugar na Galeria Municipal do Montijo, sita na Rua Almirante Cândido dos Reis, 12, Montijo, no próximo dia 9 de Maio, pelas 16:00. Obra e autora serão apresentadas pelo Mestre Rogério Borges Pereira Mota.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Manipulação de leituras


Um dos fenómenos que se podem observar na maioria dos sites de literatura e, muitas vezes, nos próprios blogues é a manipulação, pelos autores, do número de leituras obtidas pelos seus trabalhos.
São postas ao dispor dos bloguistas, algumas ferramentas que permitem controlar quer as visitas diárias quer o número total de visitas nos seus blogues. E existem sites que premeiam os blogues que lá estejam registados e que obtenham o maior número de leituras em determinado dia. Lembro-me, por exemplo, da Blogstar que atribui, mensalmente, uma estrela dourada ao blogue que seja indicado mais vezes para a merecer.
Qualquer uma das ferramentas está preparada para considerar cada visita feita por determinado IP como sendo apenas uma visita, por determinado período (normalmente um dia). Ou seja, se determinada pessoa visitar um blogue, do mesmo computador, dez vezes no mesmo dia, conta apenas como uma visita (ou, no caso da blogstar, como apenas uma indicação). Os mecanismos de controlo funcionam, é um facto. Mas também é verdade que, para um conhecedor, estes mecanismos são bastante fáceis de contornar. E nem precisa de ser um profissional.
De acordo com a Wikipédia, IP é um acrónimo para a expressão inglesa “internet Protocol” (protocolo de internet) que é um protocolo usado entre duas ou mais máquinas, em rede, para encaminhamento dos dados. De uma forma clara, o nosso IP é o que identifica a nossa ligação à internet. Mantendo-se a ligação, mantêm-se o IP. Reside aqui um dos truques mais usados para manipular as estatísticas dos blogues (ou qualquer sistema que controle os IP’s, como sejam as votações on-line, etc).
Se desligarmos a ligação à internet, quando a voltamos a ligar, o sistema vai obter novo IP. Logo, se voltarmos a aceder ao site, é contabilizada nova leitura porque o IP ainda não está registado. Consegue-se assim, com muita facilidade, contornar as estatísticas, criando falsas visitas. Há ainda quem recorra a pequenos programas informáticos que permitem mascarar o IP, com o mesmo intuito, assim como sites de internet que funcionam como mascaras.
Nos blogues, este incremento de leituras (ou, em outra análise, esta falsificação de estatísticas) pode ter, como único intuito, enganar os visitantes, fazendo-os acreditar que o blogue em causa é muito visitado e que merece, por isso, ser acompanhado. Para além do incremento (falso) de leituras, pode-se também pretender receber prémios virtuais (como seja a estrela dourada da Blogstar).
Em sites de literatura, como é o caso do luso-poemas.net, o incremento das leituras ganha uma dimensão diferente. Como é um site frequentado por bastantes utilizadores, o número de leituras de cada texto será, á partida, sinónimo de qualidade. Naturalmente haverá tendência a se ler primeiro os textos mais visitados.
Também no luso-poemas, a falsificação das estatísticas está relacionada com o IP. IP’s diferentes, leituras diferentes… ou não. Porque, do acima exposto, já concluímos que se pode falsificar/mascarar o IP.
No entanto não é a única estratégia usada por alguns autores neste site.
Na página de abertura deste site constam as últimas entradas, por ordem cronológica, uma por cada autor. Colocado o texto com determinado titulo, espera-se que tenha leituras e/ou comentários. Se, passado um bom bocado, ainda estiver abaixo do nível esperado, podem-se tomar várias atitudes para manipular. Por exemplo, mudar o título. Quem sabe, um título mais apelativo chame a atenção. Ou, se o problema for falta de comentários e, se por acaso, se deixou alguma nota mais agressiva ou menos própria, pode ser que, retirando, então seja comentado.
Se ainda assim não resultar, passa-se o texto a rascunho, grava-se e, passado um bocado, voltamos a editá-lo e publicá-lo. Ao fazê-lo, o texto é (re)publicado com a hora em que o estamos a fazer (e não com a hora em que foi publicado a primeira vez). Como as leituras obtidas antes de o passar a rascunho estão contabilizadas (e o sistema não as coloca a zero), vamos ter um texto com algumas leituras (porque já as teve antes) no meio de textos acabados de publicar (e portanto com bastante menos leituras).
Suponhamos que, mesmo assim não resulta. Que se continua com pouquíssimas leituras. Então que tal enviar o link do texto a alguns amigos, seja pelo Messenger ou por mail, pedindo-lhes opinião. Ou mandar mensagens privadas a outros utilizadores a pedir-lhes que visitem o texto em causa e que dêem a sua opinião (aproveita-se e pede-se comentários, nada mais simples).
Há ainda quem recorra a outro expediente. A criação de outro utilizador, de modo a auto-comentar-se, aumentando o número de comentários recebidos.
A mente humana está cheia de expedientes. Por cada mecanismo de controlo utilizado, são descobertas formas de os contornar. A necessidade de se auto promover e de ser acarinhado pelos outros aguça o engenho, e leva a que se tomem atitudes que, quando detectadas pelos restantes utilizadores, fique denegrida a imagem inicial que se tinha de quem usou expedientes.
São, por isso, atitudes que se devem evitar. Quer porque não favorecem quem as usa, quer porque os resultados são falsos e porque não obtemos um feedback real do nosso valor.
E para terminar, resta apenas referir, para que não restem dúvidas, o que quase todos que andam nestas “andanças” esquecem – que, mais tarde ou mais cedo, tudo se sabe.

domingo, 3 de maio de 2009

O que há em mim é sobretudo cansaço

Foto de Kari McGrath


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas –
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada –
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...



Álvaro de Campos