quinta-feira, 18 de junho de 2009

Acho tão natural que não se pense

Foto de Dorothy Neumann



Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer coisa
Que tem que ver com haver gente que pensa...


Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me coisas. . .
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente. . .


Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas coisas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos ...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.


Alberto Caeiro

3 comentários:

  1. Verdadeiramente preocupante é encontrar aquelas pessoas que pensam pensar.

    Beijoca!

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  2. "...
    Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
    Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
    E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
    Génio? Neste momento
    Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
    E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
    ..."

    Alvaro de Campos

    um outro poeta, a mesma cabeça... ele pensava muito no pensamento.

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  3. Desde já muito obrigado pela passagem no meu blog. Quanto ao poema de facto não o conheço apesar de ter gostado bastante. Às vezes acho que devia dar mais oportunidades à poesia. Contudo este senhor em particular foi um dos que aqui há uns anos me deu algumas dores de cabeça no 12º ano do secundario!! Penso até que saiu no exame nacional do meu ano! XD

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Por falta de tempo nem sempre poderei retribuir a sua visita ao meu espaço, mas agradeço-a desde já.