quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Aldeia global

Foto de Thomas Dunkerley


Comecei a usar a Internet no ano de 1998. A primeira coisa que fiz quando me liguei à Internet foi mandar um e-mail a um amigo com quem estava zangada há uns tempos. Confesso que lhe poderia ter telefonado mas não sabia se ele me ia atender. E também não sabia se ia conseguir dizer-lhe tudo o que queria. Fizemos as pazes no dia a seguir e, a partir desse momento fui conquistada pela net.
Nos meses seguintes, e através do ICQ, conheci pessoas fabulosas. Umas de perto com quem comecei a me encontrar regularmente, outras de outros países e outros continentes com quem o contacto era mesmo só virtual.
Quando visitei os Estados Unidos, em 1999 encontrei-me com um dos meus amigos de lá. Quando fui a Londres em 2000, encontrei-me com uma família com a qual mantinha contacto. Na minha casa recebi a visita duma amiga brasileira. Filipinas, Algéria, Japão… uma lista infindável de países onde tinha (e tenho) amigos virtuais. Claro que também havia amigos portugueses. E encontrávamo-nos com regularidade.
Muitas das amizades que nasceram na Internet desse tempo tornaram-se reais. Pessoas com quem, em condições normais, não me cruzaria, passaram a fazer parte integrante da minha vida. Casei-me com uma delas. No nosso grupo houve mais dois casamentos.
Não houve apenas sucessos nestes relacionamentos. Lembro-me de casos em que havia problemas sérios, histórias que me fizeram (e ainda fazem) alguma confusão. Um rapaz novo que se perdeu de amores por uma rapariga doutro continente e que passava horas a falar com ela, e que a maior alegria que sentia era quando podiam partilhar ficheiros no computador. Uma amiga brasileira que veio a Portugal conhecer o rapaz com quem namorava virtualmente e que descobriu que ele era casado e pai de duas crianças. Um português, divorciado, que se apaixonou por uma brasileira só por uma foto que nem sabia se era dela. Uma pessoa que se fez de muito amiga, interessada e que acabou a perseguir outro amigo meu.
Passaram-se 10 anos e a minha avaliação da utilização da Internet em termos de relacionamentos pessoais é francamente positiva. Já passei por diversos programas de conversação, por diversos sites e em todos eles conheci pessoas que hoje fazem parte integrante do meu mundo, e que, muito provavelmente nunca viriam a fazer. Ganhei amigos nas quatro partidas do mundo, alguns deles não lhes conheço a cara, mas nem por isso os desvalorizo. Claro que também tive a minha quota-parte de desilusões, mas que eu menosprezo.
Também através da Internet foram-me dadas segundas oportunidades com amigos com os quais, por qualquer razão, lhes tinha perdido o rasto.
Hoje uso o e-mail e o Messenger para manter esses contactos. Ao longo do dia vou conversando com alguns amigos por mail (aqueles que tem e-mail no trabalho e que o podem fazer, claro), à noite trocamos impressões no Messenger (que podem ou não ser os mesmos com quem falei durante o dia) e muitas vezes encontramo-nos mesmo para almoçar, beber um café ou para assistirmos a um evento qualquer. Alguns conheci primeiro num evento e depois é que passamos a usar o e-mail.
Não creio que seja negativo conhecer pessoas desta forma. Desde que não se perca a noção que, do outro lado do computador está um ser humano com defeitos e virtudes.
Na verdade, vivemos todos numa “aldeia global” e temos novas ferramentas ao nosso dispor. Cabe a cada um de nós saber utiliza-las da melhor forma possível para que possamos interagir globalmente de uma forma satisfatória.
Pessoalmente sinto-me satisfeita com esta forma de estar, e, se souber que, do outro lado, também se sentem assim, ainda melhor.

Nota final – Muitos de vós não devem saber o que é o ICQ. O ICQ (ou iCQ) é um programa de comunicação instantânea pela Internet que foi o mais popular durante anos. A sigla é um acrónimo baseado na pronúncia das letras em inglês (I Seek You), em português, "Eu procuro você". O ICQ foi o pioneiro desta tecnologia tendo sido lançada a sua primeira versão em 1997 por uma empresa israelita chamada Mirabilis.


6 comentários:

  1. Concordo contigo, Pedra, a Internet é uma aldeia global, que se for bem gerida faz muitas pessoas felizes e aumenta o stock de amigos.

    Conheço também alguns bons amigos que passaram de virtuais a reais.
    Um deles, é meu marido :)

    Gostei muito de ler este texto!

    Beijinhosssssssss***

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  2. Um belo texto!
    A internet é um mundo. Permite-nos tanto conhecimento, aprender tanto e claro, conhecer novos amigos, que em muitos casos passam para a realidade. Mas é também um mundo que pode ser perigoso... há que saber sempre gerir e pensar que do outro lado está um ser humanos que pode não ser exactamente como diz...

    Beijo

    Vera

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  3. Confirmo!
    A Net é importante e com ela ganhei amizades enormes e Tu és um bom exemplo.

    Já te disse hoje que gosto muito de ti?

    Não! Mas pensei...

    Belo texto! Mais um bom momento.

    Beijo

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  4. O mundo gira, a velocidade das novas tecnologias é brutal... dia a dia, minuto a minuto, o mundo evolui, cresce, aumenta, desenvolve...

    A Internet possibilita hoje o contacto com um click à China em menos de um segundo, conhecemos gente de todo o globo, compramos coisas, ouvimos musica, lemos... enfim navegamos e viajamos à velocidade da luz, mas torna o mundo mais isolado, com falta do contacto humano, do sabor, do toque.

    Parabens pelo texto

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  5. ICQ?

    Acho que já ouvi falar.... era aquela lista de 400 amigos em que andavas lá perdia no meio?

    Aquilo em que fazíamos chats de 30, em que ninguém se entendia, mas nós nunca nos perdíamos?

    Aquilo que nos fazia estar ligados noites inteiras e irmos trabalhos com 1 ou 2 horas de sono?

    HUm.... acho que me lembro!
    AH!!!!

    Mas eu ainda tenho o ICQ.... pois é....ainda cá estás na minha lista... e continuas igualzinha, quem diria....

    A vida era Bela, mas nós abusávamos...
    :)

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  6. Verdade!
    Foi atravez da internet que te conheci e que te ganhei como amiga. Também não deixa de ser verdade que esta nova tecnologia tomou conta das nossas vidas.
    Isto leva-me a pensar se realmente estamos a viver.
    Se por um lado a internet nos apróxima, também é verdade que com ela perdemos a visão do que é a vida familiar, os amigos...
    Hoje somos prisioneiros desta tecnologia , o quanto estamos mais fora da vida fisica e entramos neste mundo virtual.

    Um excelente texto

    Bjs

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Por falta de tempo nem sempre poderei retribuir a sua visita ao meu espaço, mas agradeço-a desde já.