quinta-feira, 10 de abril de 2008

Esta noite meu pai matou-me



Foto de Stefano Bandini

O meu nome é "Sara"
Tenho 3 anos
Os meus olhos estão inchados,
Não consigo ver.

Eu devo ser estúpida,
Eu devo ser má,
O que mais poderia pôr o meu pai em tal estado?

Eu gostaria de ser melhor,
Gostaria de ser menos feia.
Então, talvez a minha mãe me viesse sempre dar miminhos.

Eu não posso falar,
Eu não posso fazer asneiras,
Senão fico trancada todo o dia.

Quando eu acordo estou sozinha,
A casa está escura,
Os meus pais não estão em casa.

Quando a minha mãe chega,
Eu tento ser amável,
Senão eu talvez levaria
Uma chicotada à noite.

Não faças barulho!
Acabo de ouvir um carro,
O meu pai chega do bar do Carlos.

Ouço-o dizer palavrões.
Ele chama-me.
Eu aperto-me contra o muro.

Tento-me esconder dos seus olhos demoníacos.
Tenho tanto medo agora,
Começo a chorar.

Ele encontra-me a chorar,
Ele atira-me com palavras más,
Ele diz que a culpa é minha, que ele sofra no trabalho.

Ele esbofeteia-me e bate-me,
E berra comigo ainda mais,
Eu liberto-me finalmente e corro até à porta.

Ele já a trancou.
Eu enrolo-me toda em bola,
Ele agarra em mim e lança-me contra o muro.

Eu caio no chão com os meus ossos quase partidos,
E o meu dia contínua com horríveis palavras...

"Eu lamento muito!", eu grito
Mas já é tarde de mais
O seu rosto tornou-se num ódio inimaginável.

O mal e as feridas mais e mais,
"Meu Deus por favor, tenha piedade!
Faz com que isto acabe por favor!"
E finalmente ele pára, e vai para a porta,

Enquanto eu fico deitada,
Imóvel no chão.

O meu nome é "Sara"
Tenho 3 anos,
Esta noite o meu pai *matou-me*.


Este poema é de autor desconhecido. Gostaria que a dor que relata fosse também desconhecida das crianças que morrem diariamente vítimas de violência. E quantas vezes vítimas dos próprios progenitores que nada fazem para as proteger.
No link
http://www.ad-awards.com/commercials/selection/institute_for_support_of_abused_children/commercials-218.html podem ver um filme sobre este tema que nunca passou na televisão e que é mais um alerta. E como diz um amigo meu, a realidade dói. E dói ainda mais porque há quem vire a cara, há quem saiba destas situações e nada faz.
Os animais não tratam as suas crias como alguns seres humanos o fazem. Para a Sara do poema, teria sido melhor ter um animal como pai. Se calhar estaria viva e os seus olhos mostrariam alegria em vez de estarem inchados.
Fica mais um alerta. Se calhar inócuo.

5 comentários:

  1. Que esta mensagem seja mais um alerta á consciencia de cada um de nós.

    Bjs

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  2. Já conhecia este poema... contudo estamos perante mais um grito em silêncio de dor e um alerta à sociedade civil, que continua cega e a caminhar como se nada se passasse.

    Crimes contra crianças continuam a surgir, barbaramente aos olhos de todos com a justiça branda a alegar penas que envergonham tudo e todos.

    Assim vai o mundo...

    Belo momento

    Beijinhos
    Luis

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  3. Também já conhecia. Mais, conhecemos TODOS estas realidades. é o bom/mau da comunicação livre mas... nunca é demais divulgar. Espalhar o grito de alerta.

    Um dia. há muito tempo, um amigo disse-me "o Povo está doente, Irmã!" . Se o reencontrasse hoje dir-lhe-ia : " O Povo enlouqueceu de vez e corre para o abismo, Irmão".

    Obrigada. BFS

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  4. O seu alerta através desse texto não pode ser inócuo. Com o caso Isabela, mais um número nesta assustadora estatística.
    É preciso divulgar!
    Beijo,
    Sandra.

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  5. ..Sim, todos estamos de acordo! É necessário divulgar e reclamar...Beijo

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Por falta de tempo nem sempre poderei retribuir a sua visita ao meu espaço, mas agradeço-a desde já.