terça-feira, 12 de agosto de 2008

A amizade

Foto de Durr Wise

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo. Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.

Vinícius de Moraes

Para todos os meus amigos... todos, os presentes, os ausentes, os novos, os velhos, para todos aqueles que fazem com que eu me sinta bem comigo mesma. E que me sinta viva. Obrigado por existirem. Obrigado por me terem reconhecido.

8 comentários:

  1. Amiga tu não sabes... acho que não sabes... mas este texto é um dos mais belos que já li e que tenho guardado à muito tempo com carinho.
    É precioso! Tal como tu!

    Mil beijos

    Adoro-te!

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  2. Olá,
    Eu faço parte dos teus "novos" amigos e é sempre bom ter amigos como tu.
    Obrigado pela tua amizade :)
    Beijo
    (Não quero ficar a trás da Vera :P)
    Mil e um beijo

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  3. Um texto lindo. Tudo o que a amizade dá é pura preciosidade, sem cobranças.

    Um beijinho grande*

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  4. parabéns pelo texto escolhido. as vezes, devemos ler e reler estes textos tão especiais.
    obrigado por seres quem és
    como és
    um beijo mundo

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  5. Sabes muito bem o que penso deste tema "Amizade". Um belo texto de Vinicus de Moraes. É daqueles que passo algum tempo a ler.

    Também digo: Obrigada por me deixares fazer parte dos teus amigos.

    Beijos

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  6. Vinicius é um dos escritores que mais gosto de ler... mais um texto lindo e de grande profundidade.

    Um texto que fala de amizade, aqui postado por uma grande amiga

    Bjs
    Luis

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  7. De passagem, cruzei-me ao acaso por este lindo texto que há tanto tempo não relia...

    Há tanto tempo que já nem me lembrava dos tantos que eu considero amigos, e que ao longo da vida nem sempre tenho lembrado.

    Hoje lembrei-me deles todos e um gesto vai de certeza renascer.

    Obrigada e felicidades!

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  8. Encontrei-te naqueles becos do acaso, onde as vidas se cruzam sem sabermos como e porquê.
    Existirão razões para que a empatia aconteça quando duas pessoas ainda nem se olharam nos olhos?
    Por certo que sim... Magda.
    És para mim, já, uma referência Revejo-me na tua serenidade, precisamente quando me sinto mais inquieta. Pessoas como tu fazem-nos sempre bem ao espírito...
    E depois como acredito que a amizade não é uma palavra vã, nada melhor do que ler um texto extraordinariamente belo, como este, para nos sentirmos iluminados pela sorte que vamos tendo ao regressar sempre aos tais becos do acaso!
    Um abraço.
    Vóny Ferreira

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Por falta de tempo nem sempre poderei retribuir a sua visita ao meu espaço, mas agradeço-a desde já.