quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Balada da neve
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria... .
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança, e
noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza.
e cai no meu coração.
Poema de Augusto Gil
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Querida Amiga, adoro este poema de Augusto Gil!!! Penso que deve ter sido um dos primeiros que li a ainda hoje o sei quase todo de cor :)
ResponderEliminarObrigada por este belíssimo momento! Valeu mesmo a pena!
Um super beijo repenicado
São daqueles poemas que lemos, choramos e trazemos sempre no nosso coração...
ResponderEliminarBelo, amiga!
E belíssima foto a acompanhá-lo...
Beijo grande!
Manuela
Adorei.
ResponderEliminarEste poema é lindo e habituei-me a ouvi-lo da voz de uma pessoa que eu adorava...a minha avó.
Fizeste-me recorda-la.
Beijinhos
Esta balada fazia parte dos manuais escolares no meu tempo. Não sei se ainda faz, se não fizer é pena....
ResponderEliminarÉ um enorme prazer visitar este cantinho, dá gosto lê-lo!
ResponderEliminarA alma e a memória ficam mais ricas.
Começar o dia a ler algo de agradável e rico dá-nos forças e alegria para transpor as amarguras da vida.
Continue assim!
Beijo
RS